"(...) Será que vocês poderiam me explicar a  enquadração de alguns ritos como: Nascimento, Morte, Casamento, Puberdade,  Oração e Libertação na pratica da religião espírita.
Poderiam me  ajudar?"
Marcos  Inacio
    
   A respeito da questão que você propôs, avanço  aqui algumas considerações muito breves. Informações mais detalhadas você pode  conseguir na literatura espírita especializada (que você pode consultar  posteriormente). 
    
   De uma maneira bastante geral, o Espiritismo é  uma doutrina filosófica de implicações científicas, religiosas e filosóficas  (principalmente éticas). Não há, assim, dentro dele  uma "enquadrarão de ritos" como você se refere abaixo. 
    
   Na verdade, o que o Espiritismo procura fazer é  compreender a vida humana em seus múltiplos aspectos dentro de um ponto de vista  espiritualista, isto é, aquele que prevê a sobrevivência do ser ao fenômeno da  morte corporal e sua existência antes do ingresso nele, ou seja, do nascimento.  O objetivo fundamental do Espiritismo (assim como o de qualquer doutrina do  pensamento, ao menos em suas origens) é a felicidade do ser humano.  
    
   Assim, a doutrina espírita prevê que essa  felicidade é conseguida na razão direta em que conhecemos as coisas importantes  ao nosso redor, bem como soubermos aplicar esse conhecimento em favor de nós e  de nossos semelhantes. As fases a que você se referem são, assim, simplesmente  estágios da existência humana que devem ser compreendidos plenamente dentro de  uma visão do mundo (o que inclui todo o Universo) e não "ritualizados".  
    
   O nascimento é o regresso da alma à vida  corporal, regresso esse que não é único mas apenas um entre muitos já ocorridos  e que estão para ocorrer. 
    
   A morte é o regresso dessa mesma alma à vida  espiritual, fenômeno igualmente comum na vida maior do Espírito. 
    
   A puberdade é entendida dentro do conhecimento  fisiológico atual, bem como uma fase de amadurecimento do ser recém encarnado e  vivendo seus primeiros estágios de adaptação à difícil realidade do  mundo.
    
   O casamento de forma alguma constitui uma  instituição dentro da prática espírita. Trata-se apenas da união, segundo as  consciências de cada um, de dois seres que se reconheçam como devendo mútuas  responsabilidades por se amarem. Essa união, também, de maneira alguma deve ser  obrigatória já que a liberdade de consciência é um princípio fundamental, e  ninguém deve tê-la violada em nome de qualquer outra idéia secundária.  
    
   A oração é uma prática saudável de  relacionamento da criatura (que já dispõe de semelhante conhecimento para tal)  com seu criador e com outros seres (os Espíritos), mais próximos, visando o  equilíbrio do corpo espiritual que é fundamental para o equilíbrio e sucesso da  vida do ser. Esse equilíbrio é conseguido não somente pela prece mas igualmente  pelo ajuste das atividades do indivíduo segundo as práticas do bem.  
    
   Não existe nenhuma fórmula explícita para a  oração, nem número ou extensão, mas tem como quesito fundamental que seja  praticada com o coração acima de tudo. Isto quer dizer que o indivíduo deve  estar consciente de suas responsabilidades perante as faltas que houver cometido  contra os outros (se as tiver) antes de procurar qualquer ajuda divina.  
    
   Não existe, também, "troca de favores"  entre os homens e os Espíritos ou Deus. Os que assim pensam agir estão  mal informados a respeito da verdadeira relação que deve existir entre os  homens, Deus e os espíritos. 
    
   Finalmente, para dizer alguma coisa sobre a  "libertação" vou fazer uma interpretação pessoal dessa palavra. Libertar  significa restituir a liberdade aquele que se lhe foi subtraída. Se tratamos  aqui da liberdade do ser, esta se encontra em sua liberdade de ir e vir, pensar  e agir. Essa liberdade implica em certas Responsabilidades, já que ela tem um  limite traçado no lugar onde começa a liberdade alheia. 
    
   O ser (ou Espírito) adquire liberdade a medida  que ele evolui. Coincidentemente, ele também adquire felicidade. A evolução  espiritual da criatura é, assim, sinônimo desse ganho de liberdade. O  Espiritismo prescreve que isso é conseguido tão só (como disse) pelo ajuste dos  atos da criatura à regras do bem, da ética e da felicidade dos semelhantes.  
    
   Toda moral espírita resume-se, portanto, àquela  prescrita por Jesus em seus evangelhos e que foram resumidas pela regra áurea de  "não fazer aos outros aquilo que se não gostaria fosse  feito a si mesmo" acrescida do "amar  aos outros como assim mesmo". Por "outros" ou "próximos" o  Espiritismo entende todas as criaturas que estão próximas, ou seja, em contato  com o ser (e não aquelas que lhe são caras).
    
   Como Jesus ainda tenha acrescentado o  "assim como eu vos amei", a prática  desse amor tem como modelo o próprio Jesus. 
    
   O ponto fundamental da regra áurea trazido por  Jesus está na misericórdia que deve guiar os atos do indivíduo, princípio  enunciado no "amar aos seus inimigos", de ainda muito difícil aceitação na  atualidade. Finalmente o Espiritismo entende que essa "libertação" espiritual se  estende a todos os indivíduos na Terra, não há condição para que eles pertençam  a essa ou aquela denominação religiosa (nem mesmo ao próprio Espiritismo).  
   
                                   Ademir Luiz Xavier Junior